Montanha abaixo, vulcao acima, nao há tempo para parar e tirar fotografias. O ritmo tem de ser forte que é para nao quebrar. A principio, parece fácil. Afinal, para baixo todos os santos ajudam. Nao é. A inclinaçao obriga a travar constantemente e cada passo é um pontapé nos músculos. O entusiasmo da "mara" (malta, em espanhol salvadorenho) faz a primeira vítima. Moisés aterra de tornozelo depois de um salto mais arriscado. Homem ao chao e alguns urros de dor... contidos, que estamos aqui entre homens e nao há que dar parte de fraco. O desempenho de Moisés está agora seriamente comprometido e é certo que este Moisés nada tem a ver com o outro, aquele que abriu o mar e subiu à montanha para debitar mandamentos, embora lhe pareça ler no rosto que pede a Deus um elevador. Nada a fazer, Moisés há-de continuar mas há-de ser o último a chegar, já coxo e derreado.
E é assim a cratera do Izalco:
Depois, vem a melhor parte. Primeiro sao apenas umas pingas, uma leve humidade que se julgaria natural dado o nevoeiro. Estamos à altura das nuvens, se calhar isto é só água a passar. Nao. As gotas ficam mais grossas e o que acontece a seguir chega a ter dimensao bíblica. Chove torrencialmente e... nao há abrigo. Algumas rochas aqui e ali podem proteger do vento, mas de resto é tomar um duche com um toque de banho de imersao. Penso "eu trouxe uma capa para a chuva"; digo "estúpido, deixaste-a no hotel". Enfim, eis o estado em que ficou este vosso amigo.
A chuva, note-se, nao foi uma coisa intensa que passasse em 5 minutos. Foi uma coisa intensa que nao passou ao fim de meia hora ou mais. Nao fosse um providencial saco de plástico vindo de uma sandes do Moisés e estaria na difícil situaçao de mostrar aos guardas na fronteira um passaporte sem letras.
A chuva pára entao finalmente, mas os olhares entre nós já dizem o que todos sabemos. O pior vem agora, completamente ensopados e o vento a quase 2000 metros de altitude. Façam uma pequena ideia do que seria tomarem banho com o vosso frigorífico e uma ventoinha sempre a bombar na velocidade máxima. Mas, a natureza sabe o que faz. Nao esquecer que estamos num vulcao ainda considerado activo. Logo, há fumarolas por todo o lado. Em pouco tempo, já a "mara" cruzou a cratera a correr e se aninhou junto ao vapor quente vindo das rochas. O vapor, claro, nao seca a roupa, mas aquece o corpo e o espírito. É aqui que começam as conversas sobre futebol, gajas e calao salvadorenho. Ora cá estao os meus dois amigos Mauricio e Moisés, junto a esta verdadeira sauna natural. O fumo que se vê na foto nao é de nuvens nem nevoeiro, é mesmo aquele gás que vem das entranhas da terra.
De espírito restabelecido, toca a descer. Para alguns será mais rebolar. Felizmente que a descida se faz quase na totalidade pela areia. Sinto-me um surfista a fazer downhill. Ao fim de pouco tempo apanho-lhe o jeito. Aos saltos e o corpo de lado, ora para esquerda ora para a direita. É a parte sem dúvida mais divertida do percurso, mas também a que gera mais adrenalina. Consigo cair só uma vez, felizmente de cóxis. Herson, já lá em baixo, diz-me que nao é raro ver um turista ou outro sair dali com pernas ou tornozelos partidos. Vá lá, safei-me. Cá em baixo, é mais ou menos isto que eu vejo, o Izalco a tocar nas nuvens. Se tiverem aí uma lupa, podem ver o Alberto e o Óscar mais ou menos a meio a descer a toda a brida.
Nao, isto ainda nao acabou. Agora é tempo de subir o outro, Cerro Verde. Este tem duas particularidades. Primeiro, a subida nao é por rocha vulcanica mas por um trilho feito de degraus e terra. Com a chuva, feito de degraus e lama. Por degraus entenda-se claro troncos de madeira metidos no meio do solo. Segundo, o nome Cerro Verde nao é por acaso. Toda montanha está coberta de árvores e mato. Logo, mesmo sem chover, a água amontada nas árvores e a humidade própria das florestas da América Central há-de nos cair em cima o caminho todo. Este é o aspecto do que ainda nos resta.
O último autocarro para Santa Ana há muito que já saíu, mas os meus novos amigos oferecem-me a boleia que me salva de ter de decidir ficar a dormir nalgum abrigo ou simplesmente hibernar para poupar dinheiro. Na viagem de regresso, uma última paragem para a despedida: o Lago de Coatepeque.
Para a Maria Ana
2 comentários:
Que ondas Pedro, Soy Moises Eduardo... espero hallas disfrutado tu estancia en El Salvador, un enorme gusto haberte conocido, quedo pendiente de enviarte el listado de palabras salvadoreñas con su significado jajajajajajajaja... Al rato pues nos llegamos un dia a Portugal... mi correo es: vega1205@hotmail.com o el del trabajo que es el que aparece en la tarjeta que te di...
Cuidate un monton.
Saludos
um sorriso...
Enviar um comentário