Cheguei a este lugar. San Marcos La Laguna, uma pequena povoação nas margens do Lago Atitlán. Nao consigo descrever este lugar agora, assim, no instante em que o vivo. Talvez que quando regresse possa falar sobre ele. Das ruas estreitas que parecem pedir permissão ao bosque para que passem, dos cheiros intensos, dos cheiros que ficam depois da chuva, da chuva caindo sobre folhas e águas, do vento suave que de vez em quando agita o lago, do marulhar das ondas mínimas que avançam em passo lento até tocarem as margens, do canto e do piar dos pássaros, dos vulcões-montanha que se erguem como gigantes vigiando o seu maravilhoso mundo, do silêncio, da paz que por aqui reina e se sente, das nuvens que se entrelaçam com os picos como se dancassem entre eles, dos barqueiros que passam, das gentes que sorriem ao mero cruzar de olhares, da noite que caíu e dos cânticos e rezas que mulheres entoavam ao longe na língua dos seus antepassados, o som preenchendo o ar sem ofender o silêncio, desta imersão que sinto com a natureza e o estado puro das coisas. Cheguei a este lugar ao vigésimo primeiro dia da minha viagem, quando faltam vinte e um dias para esta viagem terminar. Tiro algumas fotografias, escrevinho meia-dúzia de apontamentos no meu bloco de notas. Todavia, sei da sua inutilidade perante a magnificiência do que me rodeia. Para que serviriam as palavras? Qual a imprecisão exacta das imagens? Cheguei a este lugar. Silêncio.
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