Saio de Juyaúa ao fim da manha. O destino é Apaneca, a segunda cidade mais alta de El Salvador, quase a 1500 metros de altitude. Antes, no hotel Mirador, as despedidas de Noémi, a anfitria e que, mais que como um hóspede, me acolheu como um membro da família. As despedidas estendem-se a Michael e a Gene, um casal de canadianos e os únicos outros hóspedes do Mirador, os únicos estrangeiros que vi desde a tarde em que escalei os vulcoes. Michael e Gene dao-me preciosa informaçao que eu nao tinha acerca da costa do Pacífico, o guia deles é mais completo que o meu.
Chego entao a Apaneca. A cidade é muito pequena e li algures que o terramoto de 2001 quase a destruiu por completo. De facto, a cidade pouco tem que ver. Na praça central, ergue-se como de costume a igreja, mas é uma igreja nova, em construçao. A antiga, dizem-me, foi totalmente arrasada pelo referido terramoto. Caminho cinco minutos e chego ao fim da vila. Nada, nem uma pensao ou hotel, um ermo no meio da montanha. Bem, penso, talvez vir até aqui nao tenha sido a melhor das decisoes. Ocorre-me entao, como tantas vezes me acontece em viagem, que nao terá sido por acaso que chego a este lugar pouco depois de Michael e Gene me terem dado a tal informaçao sobre a costa. Algo me diz que nao é aqui que devo ficar. Um minuto depois estou a apanhar o autocarro de volta para Juayúa, de onde depois sigo para Sonsonate, uma cidade a meio caminho entre Santa Ana e a costa do Pacífico. Espero meia hora dentro de um autocarro completamente exposto ao sol, o suor escorrendo pela cara abaixo. Uma hora depois chego a Los Cóbanos, uma pequena vila piscatória à beirinha do Oceano Pacífico. Vejo-o pela primeira vez, ao Pacífico, e vou até ao único hotel que aqui existe. A senhora que me recebe diz-me que o quarto custa 25 dólares (dada a qualidade do lugar nao é escândalo nenhum...) mas que a mim, porque venho sozinho e sou, sao as palavras dela, "un backpacker", me aluga a coisa por 15. Assim, sem mais nem menos, baixa o preço, sem eu ter pedido nada, porque sabe que este é o único lugar onde posso ficar. Em vez de tirar partido da situaçao, baixa o preço... El Salvador no seu melhor.Fico e deixo-me ficar. Vem a noite e um dos espectáculos mais impressionantes que alguma vez vi. O ar está quente e o mar começa a ficar revolto. Ao longe, no horizonte, rebenta a tempestade. Melhor, as tempestades. Por todo o lado, o céu se ilumina, mostrando as ondas e as nuvens que parecem fundir-se no meio do bréu. Fico em silencio contemplando a noite durante horas. Foi por isto, penso, que voltei para trás em Apaneca...
Para a Olga
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