Cada cidade, cada vila, cada nicho de vida organizada em sociedade reflecte o estádio de civilizaçao do seu mundo mais próximo. Assim, é muito mais comum encontrar neóns reluzentes de publicidade nas cidades da Europa e dos Estados Unidos que nas cidades da Índia ou da América Central. As primeiras sao sociedades altamente orientadas para o consumo, enquanto as segundas se ocupam ainda sua sobrevivência. No caso da América Central, é curioso observar o quanto a sociedade está orientada para a vida espiritual e religiosa. As igrejas ocupam os lugares centrais de todas as cidades, vilas e aldeias, os canais de televisao debitam constantemente programas religiosos, em todas as lojas e casas há frases e figuras religiosas que reflectem toda uma forma de estar na vida que se sente quando por aqui se passa. Curiosamente, já havia observado o mesmo em paises como Marrocos ou a Índia, embora aqui a religiao e a espiritualidade se reflictam sobretudo na força e dimensao dos rituais. Assim, é pois natural concluir que quanto menos uma sociedade faz do consumismo a sua prioridade máxima, mais ela parece estar orientada para fazer das religioes e seus rituais o seu principal retrato. Todavia, as cidades da Europa e dos Estados Unidos estao normalmente mais limpas, mais seguras e reflectem um nivel e uma qualidade de vida inegáveis.
A dúvida que se instala é entao a seguinte: onde sao as pessoas mais felizes? É uma pergunta muito difícil, reconheço, e seria quiçá demasiado pretensiosismo procurar responder-lhe em meia-dúzia de linhas. Ainda assim, é sempre possível estabelecer pelo menos algum termo de comparaçao. As sociedades mais religiosas (chamemos-lhe assim por conveniência de argumento - é óbvio que existe consumismo e religiosidade dos dois lados) parecem estar mais orientadas para a comunidade. Isto tem desde logo uma explicaçao mais ou menos evidente: o indivíduo tem muito mais dificuldades em subsistir sozinho. Sem a comunidade, sobretudo sem a família, o sujeito pode estar irremediavelmente condenado à miséria. Por outro lado, e porque nestas coisas nunca se sabe muito bem onde está o começo e o término de uma dada realidade, a própria filosofia inerente a qualquer religiao valoriza o papel da família, sobretudo o da hierarquia entre mais velhos e mais novos. Ao contrário, é hoje evidente nas sociedades do chamado primeiro mundo (outra vez, a nomenclatura é só por questoes de conveniência) que a instituiçao familiar se encontra em crise. Basta passar uma manha numa qualquer escola numa qualquer cidade média para constatar esta evidência, basta ver as histórias de solidao que cruzam os telejornais em horário nobre. Porém, neste caso, e talvez nao por acaso, é interessante observar como a sobrevivência do indivíduo está muito menos posta em causa. Isto resulta, obviamente, de um maior nível de vida em termos económicos. Embora a vida nunca seja fácil para o comum dos mortais em parte alguma, o certo é que em vários países da Europa, por exemplo, um emprego pode ser desde logo sinónimo de independência, se nao total pelo menos suficientemente parcial para que o indivíduo se baste mais ou menos a si mesmo. Por outro lado, é também certo que as sociedades mais consumistas, por o consumismo se destituir de grandes complexidades, apresentam hoje maiores problemas éticos e morais - a chamada crise de valores - para nao falar no consumo crescente de anti-depressivos.
Nas minhas viagens por paragens mais longínquas, em países que se podem talvez considerar ainda como em vias de desenvolvimento, encontrei uma humanidade e uma dimensao espiritual que sem dúvida me impressionou, e muito, pela positiva. Também nao é incomum encontrar outros viajantes que, vindos de lugares semelhantes àquele de onde vim, se decidiram a ficar, quase todos em busca de uma qualquer dimensao de humanidade social que supostamente lhes escapa. Curioso é, porém, notar que outra coisa relativamente vulgar é encontrar pessoas, sobretudo jovens naturais dos lugares que visito, que procuram indagar sobre como se trabalha e se vive no país ou regiao de onde venho. E aqui sucede também algo de extraordinário, pois o que mais sucede é dar-me conta do quao acima estou de facto do seu nível de vida ao mesmo tempo que lhes percebo no rosto e nas palavras uma certa admiraçao e uma certa inveja. Assim sendo, já aqui o disse, permanece sempre por saber qual dos lados convive mais de perto com a felicidade. Outra questao se levanta entao: estará o Homem condenado a este eterno desequilíbrio?
A dúvida que se instala é entao a seguinte: onde sao as pessoas mais felizes? É uma pergunta muito difícil, reconheço, e seria quiçá demasiado pretensiosismo procurar responder-lhe em meia-dúzia de linhas. Ainda assim, é sempre possível estabelecer pelo menos algum termo de comparaçao. As sociedades mais religiosas (chamemos-lhe assim por conveniência de argumento - é óbvio que existe consumismo e religiosidade dos dois lados) parecem estar mais orientadas para a comunidade. Isto tem desde logo uma explicaçao mais ou menos evidente: o indivíduo tem muito mais dificuldades em subsistir sozinho. Sem a comunidade, sobretudo sem a família, o sujeito pode estar irremediavelmente condenado à miséria. Por outro lado, e porque nestas coisas nunca se sabe muito bem onde está o começo e o término de uma dada realidade, a própria filosofia inerente a qualquer religiao valoriza o papel da família, sobretudo o da hierarquia entre mais velhos e mais novos. Ao contrário, é hoje evidente nas sociedades do chamado primeiro mundo (outra vez, a nomenclatura é só por questoes de conveniência) que a instituiçao familiar se encontra em crise. Basta passar uma manha numa qualquer escola numa qualquer cidade média para constatar esta evidência, basta ver as histórias de solidao que cruzam os telejornais em horário nobre. Porém, neste caso, e talvez nao por acaso, é interessante observar como a sobrevivência do indivíduo está muito menos posta em causa. Isto resulta, obviamente, de um maior nível de vida em termos económicos. Embora a vida nunca seja fácil para o comum dos mortais em parte alguma, o certo é que em vários países da Europa, por exemplo, um emprego pode ser desde logo sinónimo de independência, se nao total pelo menos suficientemente parcial para que o indivíduo se baste mais ou menos a si mesmo. Por outro lado, é também certo que as sociedades mais consumistas, por o consumismo se destituir de grandes complexidades, apresentam hoje maiores problemas éticos e morais - a chamada crise de valores - para nao falar no consumo crescente de anti-depressivos.
Nas minhas viagens por paragens mais longínquas, em países que se podem talvez considerar ainda como em vias de desenvolvimento, encontrei uma humanidade e uma dimensao espiritual que sem dúvida me impressionou, e muito, pela positiva. Também nao é incomum encontrar outros viajantes que, vindos de lugares semelhantes àquele de onde vim, se decidiram a ficar, quase todos em busca de uma qualquer dimensao de humanidade social que supostamente lhes escapa. Curioso é, porém, notar que outra coisa relativamente vulgar é encontrar pessoas, sobretudo jovens naturais dos lugares que visito, que procuram indagar sobre como se trabalha e se vive no país ou regiao de onde venho. E aqui sucede também algo de extraordinário, pois o que mais sucede é dar-me conta do quao acima estou de facto do seu nível de vida ao mesmo tempo que lhes percebo no rosto e nas palavras uma certa admiraçao e uma certa inveja. Assim sendo, já aqui o disse, permanece sempre por saber qual dos lados convive mais de perto com a felicidade. Outra questao se levanta entao: estará o Homem condenado a este eterno desequilíbrio?
Para a Irene
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