Deixei finalmente Copán para trás e parti rumo a El Salvador. A intençao inicial era passar a fronteira e parar em Metapán, uma pequena cidade nas montanhas. Todavia, cheguei a Nueva Ocotepeque, ainda do lado hondurenho, já perto das quatro da tarde, ou seja, muito depois do último autocarro que sai do lado de lá da fronteira. Resolvi sair e passar aí a noite. Sigo viagem amanha de manha.
Nao vi nem um estrangeiro em Nueva Ocotepeque. Ao escolher esta rota, ainda por cima apanhando os autocarros "colectivos" (velhos school bus norte-americanos), saí por completo das rotas turísticas habituais. Há desvantagens nisso, mas as vantagens sao evidentes. Desde logo, o facto de contactar muito mais de perto com a vida real das pessoas que aqui vivem. É exactamente isso que pretendo e é exactamente isso que estou a fazer. O mais que vejo sao trabalhadores rurais, ou vendedores de rua, ou gente que segue o seu caminho na luta do dia-a-dia.
Um rapaz novo, talvez vinte anos, entrou no autocarro pela porta traseira. Carregava consigo a mais estranha das bagagens. Amontoadas em redes e sacos, o rapaz trazia desenas de centenas de latas de refrigerantes, todas elas bem amassadas e agrupadas, formando um círculo perfeito. O rapaz atirou uma, duas, tres, quatro destas esferas de aluminio sujo e colorido e entrou, na mao a meia-dúzia de lempiras para pagar ao revisor, e seguiu até á cidade mais próxima.
Ao viajar assim, é impossível nao reflectir sobre o que é a vida deste povo, de que sao feitas as suas conquistas diárias. Conheci um homem no autocarro que me disse que havia vivido cinco anos nos Estados Unidos. Para muitos, a terra do Tio Sam é obviamente um El Dorado, algo que os tira desta rotina em que se luta sobretudo para conquistar o hoje. Nao posso deixar de me lembrar de todas as vezes em que ouço as pessoas do lugar de onde venho queixarem-se das suas vidas. Porque se apanha muito trânsito, porque nao se ganha o suficiente, porque a escola dos meus filhos abre demasiado cedo, porque saio do trabalho demasiado tarde, porque o Benfica perdeu, porque as coisas "neste país" nao funcionam como deviam, porque o chefe é um idiota... Tudo queixas legítimas, pois claro. Como se pode ganhar o suficiente quando um televisor LCD custa tao caro, ou como nao apanhar tanto transito logo agora que comprei o último modelo série B da Toyota? Sou professor e vivo em Lisboa. É esse o meu mundo, foi aí que cresci, algumas destas queixas tambem já terao sido minhas. Certo, mas que dirá o homem que viaja para um país onde nem a língua o reconhece, ou o rapaz de latas de refrigerantes às costas? Que queixas terao eles, quais serao as suas infelicidades?
Nao vi nem um estrangeiro em Nueva Ocotepeque. Ao escolher esta rota, ainda por cima apanhando os autocarros "colectivos" (velhos school bus norte-americanos), saí por completo das rotas turísticas habituais. Há desvantagens nisso, mas as vantagens sao evidentes. Desde logo, o facto de contactar muito mais de perto com a vida real das pessoas que aqui vivem. É exactamente isso que pretendo e é exactamente isso que estou a fazer. O mais que vejo sao trabalhadores rurais, ou vendedores de rua, ou gente que segue o seu caminho na luta do dia-a-dia.
Um rapaz novo, talvez vinte anos, entrou no autocarro pela porta traseira. Carregava consigo a mais estranha das bagagens. Amontoadas em redes e sacos, o rapaz trazia desenas de centenas de latas de refrigerantes, todas elas bem amassadas e agrupadas, formando um círculo perfeito. O rapaz atirou uma, duas, tres, quatro destas esferas de aluminio sujo e colorido e entrou, na mao a meia-dúzia de lempiras para pagar ao revisor, e seguiu até á cidade mais próxima.
Ao viajar assim, é impossível nao reflectir sobre o que é a vida deste povo, de que sao feitas as suas conquistas diárias. Conheci um homem no autocarro que me disse que havia vivido cinco anos nos Estados Unidos. Para muitos, a terra do Tio Sam é obviamente um El Dorado, algo que os tira desta rotina em que se luta sobretudo para conquistar o hoje. Nao posso deixar de me lembrar de todas as vezes em que ouço as pessoas do lugar de onde venho queixarem-se das suas vidas. Porque se apanha muito trânsito, porque nao se ganha o suficiente, porque a escola dos meus filhos abre demasiado cedo, porque saio do trabalho demasiado tarde, porque o Benfica perdeu, porque as coisas "neste país" nao funcionam como deviam, porque o chefe é um idiota... Tudo queixas legítimas, pois claro. Como se pode ganhar o suficiente quando um televisor LCD custa tao caro, ou como nao apanhar tanto transito logo agora que comprei o último modelo série B da Toyota? Sou professor e vivo em Lisboa. É esse o meu mundo, foi aí que cresci, algumas destas queixas tambem já terao sido minhas. Certo, mas que dirá o homem que viaja para um país onde nem a língua o reconhece, ou o rapaz de latas de refrigerantes às costas? Que queixas terao eles, quais serao as suas infelicidades?
Para a Susana R.
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