quarta-feira, agosto 22

Viagem ao Centro das Américas 40

A surpresa

Caminhava pelo Parque Nacional Las Victorias, em Cóban. No meio do bosque, um professor dá uma aula de Educação Física a crianças que não têm mais de 6, 7 anos. Particularidade: parece-me que estão a falar Língua Gestual. Páro e fico a observar, o professor cumprimenta-me simpaticamente. E sim, estão mesmo a falar Língua Gestual. A aula termina e começamos a conversar. Chama-se Olima e dá aulas de Educação Física num colégio ali perto. Digo-lhe que também sou professor de surdos e convida-me a acompanhá-lo para conhecer e EDECRI - Escuela de Educacion Especial Centro de Rehabilitacion Integral.


Aí conheço a directora e Merlyn, uma professora com curso superior em Lensengua (Lengua de Segños Guatemalteca) que me explica amavalmente como funciona o colégio e que responde prontamente ao chorrilho de perguntas que lhe vou fazendo. Merlyn é professora primária, mas isso, aqui em Cóban, é sinónimo de dar aulas a alunos quase com 20 anos. Conheço a turma de Merlyn e aprendo a dizer "bom dia" e "obrigado" em Lensengua. Percebo ainda que existem muitas semelhanças entre a Língua Gestual Portuguesa e a Lensengua. O melhor vem depois. Os miúdos. Olham para mim com uma enorme curiosidade e respeito e cheios de sorrisos quando lhes é explicado que também sou professor de surdos.

A turma de Merlyn

Despeço-me porque por aqui é tempo de aulas e sinto que estou a interferir. Cá fora, encontro mais crianças. Começo a falar com elas usando a LGP, mudando gestos, fazendo mímicas. Algumas coisas entendem, mas a comunicação é sobretudo feita através da forma como me olham, como se riem para mim, como se fascinam com a atenção que lhes dou. Quando me vou embora, já estou a flutuar de alegria. E pensar que pensei que a Língua Gestual era a única que jamais poderia usar nas minhas viagens...

Os contemplados com fotografia. Um deles ainda me escreveu o seu nome num papel, mas estava em Q'ekchi, língua Maia. Não consigo reproduzi-lo aqui.

Para A. Lima e Susana R.

1 comentário:

Áqui-o-químico disse...

Fantástico Pedro!! FANtástico também porque desde que descobri o teu blogue naquele papelinho que me havias escrito (até lá procurava em vão nos motores de busca da internet), tornei-me FÃ desta tua viagem que vou acompanhando atenciosamente. Se não vê. Tenho o google earth aberto e delineio a tua viagem no mapa e no meu imaginário. Acho que todos de alguma forma sentimos uma comichão invejosa de não estarmos aí. MAs esta é uma daquelas viagens a solo, uma viagem interior ao interior do povo e do teu poço! Abraço companheiro Pedro. Assim que chegares também estarei a abalar para a GB mas lá para o Inverno (hihi) não escaparás a uma viagem comentada nas fotos (algumas dignas de postal) e vídeos que até agora optaste por ocultar ;) Tou a gostar do relevo e do que revela a América Central!