segunda-feira, agosto 6

Viagem ao Centro das Américas 21

El Salvador

A história de El Salvador pode bem começar em 1821. 15 de Setembro, este pequeno país, "entalado" entre a Guatemala, as Honduras e o Oceano Pacífico, obtém a independência de Espanha. Antes disso, séculos de repressao sobre os povos indígenas explicam a actual aparência física dos salvadorenhos. Embora vagamente parecidos com os seus vizinhos, os salvadorenhos sao os mais europeus de toda a América Central. Nas ruas de Santa Ana, por exemplo, nao é difícil ver gente de cabelo louro ou olhos claros.
Após a independência, o café torna-se a principal produçao de El Salvador e o pilar da sua economia. A riqueza que gera, porém, à imagem do que sempre havia sucedido no passado, recai nas maos de uma elite minoritária que controla e gere o país a seu bel prazer. Em 1932, Augustín Farabundo Martí, fundador do Partido Socialista da América Central, lidera uma revolta da populaçao juntamente com os povos indígenas. As forças militares, controladas pela elite governamental, respondem com violência. Estima-se que terao morrido cerca de 30.000 pessoas, naquilo que ficou conhecido na história do país como La Matanza. Martí é preso e fuzilado, mas o seu nome e o seu heroísmo haverao de ser preservados pelo tempo e pela acçao dos seus sucessores.
Lago de Coatepeque

Os anos 70 marcam um período negro no qual El Salvador sofre severamente com problemas como o desemprego e a sobre-populaçao, aliados ao contínuo problema da posse de terra de poucos em detrimento de muitos. No final dos anos 70, um golpe militar liderado pela direita derruba o presidente Carlos Romero. À populaçao sao prometidas reformas de fundo que jamais chegam a concretizar-se. Os partidos da oposiçao reúnem-se e forma a FDR (Frente Democrática Revolucionária) e aliam-se a um outro grupo constituído por várias guerrilhas. Este último denomina-se de FMLN - Frente Martí de Liberación Nacional - preservando assim o nome de Farabundo Martí, líder da primeira revolta popular. As acçoes de guerrilha sucedem-se como forma de pressionar as reformas e mudanças cruciais para uma populaçao a braços com uma cride económica e social desesperante. Neste ponto, a igreja católica desempenha uma vez mais um papel fundamental, criticando de forma aberta a política de repressao do governo. Um dos elementos mais activos nessa crítica é Monsenhor Oscar Romero. Em Março de 1980, Romero é assassinado enquanto reza missa numa capela em San Salvador. Em resposta, a guerrilha intensifica a sua actividade efectivando uma guerra civil que há muito se delineava. A guerrilha, em muitos lugares apoiada pela populaçao, ganha em relativamente pouco tempo controlo sobre várias regioes no norte e no leste do país. Todavia, as forças militares do governo têm um poderoso aliado. O governo americano, sustentando o vezeiro argumento de nao deixar que o socialismo tome conta da América Latina, financia repetidamente o governo salvadorenho e o seu exército, deste modo prolongando o conflito. Em 1981, o batalhao norte-americano Atlacatl intervém em El Mozote, Morazánm, no leste do país, e mata mais de 900 pessoas entre a populaçao civil.
Santa Ana
A guerra segue o seu trágico percurso de sempre. Mais de 300.000 refugiados deslocam-se dentro e fora do país. O governo salvadorenho consegue suster a luta da guerrilha criando e apoiando grupos armados, "esquadroes da morte, que perseguem e aniquilam todos os que se perfilham com os opositores. A guerra conhece entao um outro lado perverso. A FMLN, supostamente apoiada por uma frente popular, necessita de estagnar a economia de forma a manter a tensao social e assim pressionar a queda do regime. Para tal, destrói infra-estruturas, plantaçoes de café e gado, contribuindo assim ainda mais para a miséria e desespero do povo salvadorenho. A guerra conhece apenas uma trégua. Em 1985, um violento tremor de terra atinge todo o país, destruindo parte da capital. Governo e FMLN acordam em suspender os combates durante o período de auxílio à populaçao.
Vulcao Izalco
Só em 1990, as Naçoes Unidas intervêm no sentido de mediar negociaçoes entre a FMLN e o governo. Um acordo de direitos humanos é assinado, mas violado desde logo, o que resulta num aumento da luta armada e das mortes entre a populaçao. Em 1991, as forças militares das Naçoes Unidas entram em El Salvador de modo a permitir a estabilidade necessária às negociaçoes de paz. O acordo entre as duas partes é assinado no início de 1992, sendo o cessar-fogo efectivo a partir de Fevereiro do mesmo ano. A FMLN torna-se um partido da oposiçao e o governo compromete-se a desmantelar os seus esquadroes da morte. Todavia, o governo concede a muitos dos responsáveis pelas violaçoes dos direitos humanos amnistia total, permanecendo muitos deles ainda hoje em posiçoes de poder. A guerra durou mais de doze anos e matou mais de 75.000 pessoas.
Chego a El Salvador em 2007, 15 anos depois do fim da guerra civil. Encontro um povo dotado de uma afabilidade verdadeiramente extraordinária. O salário mínimo do país é o mais alto da América Central e a sua economia apresenta índices de desenvolvimento superiores a muitos dos seus países vizinhos.
Para a Conceiçao

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