4. Às portas do Douro
Estação de São Bento, Porto, dez horas da manhã. A menina da bilheteira não percebe o que eu digo. Tenho a certeza que não estou noutro país, que esta viagem não me levou além-fronteiras e que a minha terra é um país pequeno onde todos falamos a mesma língua. Pois. Pergunto se posso apanhar ligação na Régua para Vila Real, deste modo fazendo a linha ao longo do Rio Corgo. Aqui tudo bem, diz-me que não, que para Vila Real só autocarro, mas da CP. Então pergunto pela linha do Tua, se está a funcionar ou não. De Vila Real para Tua, não, responde-me. Sim, isso eu sei, pergunto se em Tua posso apanhar a mítica linha. Ah, responde, isso não, está fechada. Ok, então se for primeiro até à Régua e depois seguir para Pocinho, é possível. É o mesmo comboio, responde. Claro que é o mesmo comboio, pergunto é se há mais comboios para o Pocinho depois deste. Ah, há, isso há. Então posso ir até Pocinho e regressar no mesmo dia à Régua. Olhar de silêncio contemplativo para a folha de horários. Aponta. Faz dois círculos onde está a hora do comboio de regresso ao Porto. Não, não é isso, digo, é a hora de regresso do Pocinho. Para o Pocinho, já lhe disse, tem mais três comboios hoje. Respiro fundo. Quero saber a hora de regresso do Pocinho, não a hora de partida para o Pocinho. Ah (outra vez). Vira o horário ao contrário e indica-me a hora. Já percebi que o melhor será as perguntas ficarem por aqui. Dê-me um bilhete até ao Pocinho no próximo comboio. A menina sorri e entrega-me o bilhete. Eu fico a pensar como deve soar o meu sotaque por estas paragens enquanto me delicio com a estação centenária.
1 comentário:
Olha, enquanto os lisboetas falarem com a boca semi-cerrada nao há tripeiro que os compreenda. É que a nossa generosidade também chega à forma como pronunciamos as sílabas, por isso nos custa compreender quem nao o faz :)
Virgínia
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