domingo, setembro 24

Diários da Índia 4

Impermanência


Mahabodhi International Meditation Centre, Leh, Himalaias

A impermanência de todas as coisas, a constante mudança a que está sujeito tudo quanto vive e existe deve ao homem servir não só de aviso como igualmente de consolo. Quando se experimentam sentimentos de alegria e felicidade, é bom que o homem se lembre de que tais sentimentos não irão durar para sempre. Deve então o homem aproveitar tais momentos no seu pleno, ao mesmo tempo que reconhece a necessidade de constantemente os cultivar, pois de contrário esgotar-se-ão ainda de forma mais rápida. Por outro lado, ao experimentar sentimentos de tristeza, raiva ou angústia, é igualmente bom que o homem se lembre de que tais sentimentos não irão permanecer em infinito no contínuo do seu tempo. Deve então o homem esperar, reconhecendo que tais sentimentos, embora impossíveis de evitar, devem agora ser compreendidos para que possam doravante ser da sua vida erradicados.
Em todo o caso, deve o homem aceitar. É fácil aceitar o que o homem define para si mesmo como bom, aquilo que lhe dá prazer e bem-estar. O que é difícil para o homem é aceitar o que para si define como mau, o que, comparado com o que lhe dá prazer, faz o homem sentir o lado escuro da vida. Porém, ao reconhecer que tudo muda e tudo é impermanente, o homem poderá encontrar sossego na certeza de que, tal como aquilo que chama de bom, também o que denomina de mau se esgota na passagem do tempo e na acção concreta dos dias. Por isso, é tolice o homem iludir-se com o que é prazer, agarrando esses momentos como se nunca quisesse que findassem. Em simultâneo, de nada vale ao homem afundar-se na angústia do que é dor e é sofrimento. Ao homem resta-lhe apenas viver, simplesmente viver o que a vida é, sem se agarrar ao que é bom como um náufrago desesperado com medo do que possa ser mau. Todavia, perante o conhecimento do que é para si bom ou mau, perante o reconhecimento de que em tudo se encontra a substância da vida, pode um dia o homem agir no sentido da paz e da felicidade, precisamente esse lugar onde nem bom nem mau subsistem, onde tudo apenas é, onde tudo impermanece como um simples fôlego de respiração.
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