quarta-feira, maio 9

Diários do Deserto 22

Alguns saberes adquiridos

Como regatear: suponha-se que estamos a falar de um jebella. Se o vendedor lhe diz 120 dirhans (mais ou menos 12 euros) saiba que a coisa não valerá mais de 40. Todavia, jamais conseguirá esse preço, nem era bem justo que o fizesse, sobretudo se for europeu e ganhar num dia o que um marroquino ganha numa semana. Além disso, terá também de pagar pelos pacóvios e afins que ou não sabem regatear ou aceitam a primeira patacoada que vem à cabeça do comerciante e assim habituam mal os donos dos quiosques locais – lembro-me sempre daquela turista inglesa em Udaipur na Índia que pagou 3000 rupias (40 euros) por um shawl que valia 150 (2 euros)… Assim sendo, não perca a esperança de conseguir talvez 70 a 80 dirhans pelo objecto em causa. A regra é simples e toda a gente a conhece: peça por baixo, diga por exemplo 50. Depois, não deixe nunca que seja o comerciante a fazer a oferta final. Faça-a você, que sempre lhe faz bem ao ego, apesar de estar a ser explorado, espoliado e vilipendiado no simples gesto de trocar meia dúzia de notas por um roupão com barrete.

Se for parado pela polícia por ir em excesso de velocidade, a multa poderá ir até aos 500 dirhans (50 euros). Diga que só tem 200 (logo, não ande com o dinheiro todo na carteira, meta o resto num bolso escondido da mochila) e faça por chorar um pouco. Está num país estranho, faltam 300 quilómetros até ao seu destino e se der todo o seu dinheiro não tem como seguir viagem se acontecer algum problema. Eu safei-me com uma multa de 100 dirhans e um simpático sorriso do senhor GNR das arábias. Agradeça muito e com deferência. Guardas são guardas e não há um que não goste de sentir que é autoridade.

Se fizer viagens longas de comboio, tente não se sentar do lado da coxia. À medida que a viagem prossegue, o número de passageiros aumenta e o corredor vai ficando atafulhado de gentes por cima de malas e bebés por cima das gentes. Há quem se sinta enjoado e não seja capaz de conter os fluxos digestivos. A mim valeram-me os reflexos, mas mesmo assim fui ferido no antebraço direito. Uma experiência a não repetir a menos que seja um curioso da biologia química.

De acordo com Javier, o meu companheiro de viagem desde o primeiro dia em Marrakech, uma experiência realmente intensa é fazer amor com cantoras de ópera. Seja pela robustez das referidas senhoras, seja pela expressão de um qualquer egocentrismo próprio das divas, o certo é que a coisa, a julgar pela descrição, tem condições para ser dada ao capitulo do inesquecível. Ao que parece, as cantorias não se resumem ao palco e muito menos o alcance da voz. Se algum dia visitar Milão não se esqueça de levar protecções auriculares.

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