terça-feira, setembro 4

Viagem ao Centro das Américas 55

Viajar é isto. Conhecer gente de toda a parte e depois dizer adeus a gente de toda a parte. Por vezes, o conhecimento dura um par de horas, por vezes um par de dias, excepcionalmente um pouco mais do que isso. O conhecimento do outro é quase sempre enriquecedor porque é também um conhecimento de nós próprios. Porém, como em tudo, há casos em que esse conhecimento é mais profundo, outros em que parece passar ao lado de quem somos. Vulgo é dizer-se que depende da empatia, outras vezes do tempo, quase sempre daquilo que se partilha e da forma como se partilha.
Recordo, por exemplo, o caso de Greg, um canadiano que entrou um dia no mesmo restaurante onde eu estava a almoçar em Cópan Ruínas. Não havia mais nenhum estrangeiro por perto e Greg pediu para se sentar na minha mesa. Conversámos, partilhámos uma refeição. Durante este tempo – não mais que uma, duas horas - Greg contou-me que procurava dar um novo rumo à sua vida. Havia-se licenciado em engenharia, mas sentia que a sua vocação era a de ser professor. Por isso estava nas Honduras, trabalhando como voluntário e tentando descobrir se estava correcta a sua inclinação. Disse-lhe então que também era profesor e que, mais do que isso, sentia desde sempre ser essa a minha vocação e que hoje em dia não tenho a menor dúvida que esse será o meu destino enquanto me for possível. A coincidência foi demasiado óbvia para não ser reconhecida por ambos. Um homem à procura do seu caminho entra ao acaso num restaurante onde encontra outro homem que escolheu para si o caminho que o primeiro homem não sabe se deve escolher. Quando nos separámos tive a impressão de que num instante poderia ter feito diferença na vida de outro ser humano. Assim, num par de horas.
E então há o adeus, o momento da separação que já sabemos de antemão ser inevitável. Normalmente não custa muito, melhor, não custa nada. Não há tempo nem grandes razões para afinidades de maior, basta seguir em frente, continuar o nosso caminho. Francesc e Neus, porém, foram, mais que companheiros de viagem, companheiros de experiências e com eles senti um nível de partilha de uma raridade óbvia, sobretudo quando estamos a falar de viajantes que percorrem juntos uma parte do seu caminho. Francesc e Neus foram as pessoas com quem mais tempo estive durante esta viagem. Creio que terá sido pouco mais de uma semana, mas o que vivemos durante esse período não cabe nas dimensões vulgares de tempo. Acima de tudo, senti que com eles poderia continuar a viagem durante muito mais tempo. A afinidade e a cumplicidade que se desenvolveu entre nós em tão pouco tempo tem tanto de extraordinário como de absolutamente natural. Foi assim uma espécie de encontro automático, a mesma maneira de viajar, a mesma calma, a mesma tranquilidade, as mesmas preferências e o mesmo espírito aventureiro de mudar tudo e todos os planos num simples minuto. Só que então há que dizer adeus. Com Francesc e Neus ficou sobretudo a sensação de ter com eles vivido algo de particular e especial que prevelecerá na memória. Por isso, sinto-me sobretudo grato por os ter conhecido e por com eles ter vivido tudo quando vivi. E sei que nos voltaremos a ver um dia. Hasta pronto, amigos!

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