Aeroporto de Philadelphia, 5 de Setembro, 19.00h
Que é uma viagem? Uma experiência? Certo, mas quantas experiências cabem no decurso de uma jornada? E se a viagem é longa, quantas viagens acontecem ao longo de um caminho? A vida continua enquanto viajamos e isso significa que continuam os dias bons e os menos bons, as ocorrências extraordinárias e as simples banalidades, sendo que o extraordinário prevalece por nos sentirmos num outro mundo. Passa-se antes que tudo acontece mais depressa e que, por ausência de rotinas e pressões sempre associadas, temos muito mais tempo e atenção e disponibilidade para absorver o que nos rodeia. E depois há as contrariedades, as mudanças de planos, os instantes em que aquilo que havíamos pensado se transforma crucialmente em algo oposto, em algo menos ou em algo mais. Essas mudanças ocorrem porque sim, porque queremos ou porque somos surpreendidos pelo curso individual das coisas que nos ignoram. É então que surge um outro elemento essencial: a escolha. A escolha não só dos caminhos e dos rumos que queremos então tomar, mas a escolha de aceitar ou não e evidente e magnânime distância entre o algo que se planeia e a realidade do que se vive. A partir do momento em que aceitamos este longo hiato, então a experiência de viajar torna-se completa, porque toma em si a vida como ela é. Pura e simplesmente. Porque nesse instante de aceitação, tudo o que está inerente à viagem é a viagem, e não o que poderia ter sido, o que gostávamos que não tivesse tido lugar, o que eventualmente poderíamos ter sonhado. E assim se abrem as portas para que possamos fluir nos caminhos que tomamos, para que possamos chorar e rir com tudo por tudo ser imenso e ser completo. É que uma viagem é apenas isso mesmo: a vida.
Regresso. Nascer do sol sobre o Atlântico, 6 de Setembro.
FIM