sexta-feira, novembro 24

Liberdade

Gostava de sentir a liberdade absoluta. Gostava de viver ao sabor de um passo, ignorar os ponteiros do tempo e contar apenas a luz do dia e as estrelas na noite. Ser livre, percorrer a pé as praias mais longas do mundo, cheirar o mar até ao fundo mais remoto.
Queria beijar toda a beleza que já vislumbrei, abraçar a vida como se abraça um amigo.
Queria cair na vertigem da estrada que não leva a lugar algum e chegar a esse eterno nada.
Gostava de lavar o coração com todas as lágrimas que nunca chorei para que o sangue fosse tão puro como quando era criança. Queria ser outra vez criança, visitar a infância e ver a frescura dos olhos de minha mãe, escutar a gargalhada solta de meu pai, brincar com o meu irmão, os dois perdidos nesse amor mais simples que é o amor entre crianças.
Gostava de voar ao entardecer, ofuscado por crepúsculos incandescentes, a respiração suspensa pelo beijo da Natureza, o olhar preso de espanto na grandeza do mundo.
Queria escrever as palavras certas para descrever o amor, a vida, a morte e a transcendência do Homem, escrevinhar nas paredes das casas os meus poemas favoritos, partilhar com toda a gente o fervor das emoções que se escondem na explosão de um verso.
Gostava de ser absolutamente livre, de amar quando e onde quisesse.
Queria libertar o corpo ao vento e nunca sair de casa, beber a água nas fontes das montanhas e escutar o silêncio que para sempre se afunda no horizonte.
Gostava de fechar os olhos e apenas sentir, sentir a brisa da vida que para sempre em mim se transforma.

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