quarta-feira, novembro 22

Claridade

Jorge Luís Borges: (…) reflecti que todas as coisas sucedem a uma pessoa precisamente agora. Passam séculos e séculos e só no presente acontecem os factos; há inúmeros homens no ar, na terra e no mar, e tudo o que realmente sucede, sucede-me a mim…

Podemos pensar que a vida se agita constantemente aos nossos olhos; podemos acreditar que bebemos a existência plena pela taça da experiência enquanto saboreamos o doce bolo do conhecimento; podemos julgar que já vimos no mínimo metade do que há para ver e que o nosso saber é sólido como as raízes mais fundas; que embora esse saber possa sofrer transformações e contestações jamais será alterado na sua essência; podemos por exemplo saber que o tempo tem dias e tem noites, que os dias são normalmente claros e que as noites primam pela escuridão, que a escuridão só pode ser concebida na ausência da luz e que só a luz pode anular qualquer resquício dessa escuridão. Sabemos isto e muito mais e pensamos, ou melhor, não pensamos, que os limites do nosso mundo comportam também eles os limites do nosso entendimento.
E depois basta um instante. Um homem senta-se à nossa frente com a face meio comida pelo tempo e percebemos que não vivemos nada. Assalta-nos a evidência de que o mundo, esse sim, é vasto e da nossa vida não reza a sua história ininterrupta. Fica-nos a impressão de que não somos mais que uma fracção, que algures o grande relógio se soltou e se fez a história que continuará mesmo para além de toda a nossa transcendência. Percebemos tudo isto só com a presença de um velho? Sim. Porque não podemos fugir à óbvia diferença que entre nós subsiste e que nos mostra a distância que nos separa dos homens que também somos.

1 comentário:

Anónimo disse...

MANO, existem alturas em que somos de tal maneira magnéticos em relação ao que nos rodeia que nos esquecemos de olhar para o lado e ver quem está ao alcance de um abraço, um sorriso, um incentivo e baseando-me no que acabei de dizer, só me resta concluir afirmando o meu orgulho por ter alguém bem próximo que me ensina e transmite através de palavras e emoções aquilo que me faz ser tão magnético em relação ao que me rodeia. Obrigado, MEU IRMÃO.