Reflexão em torno da infância
Os meninos das ruas de Marrakech não sabem onde vivem os meninos das ruas de Lisboa. E os de Lisboa nada sabem sobre aqueles aos quais o destino lhes trocou as voltas nas ruas de Marrakech. Porém, a ambos lhes toca a vida de serem meninos e de serem de rua. A ambos lhes calhou em sorte o azar de viver de mão estendida, de esperar pelo sorriso e ajuda alheia para depois ver os rostos voltados em recusa. Talvez que os meninos das ruas de Marrakech, se sonharem, pensem que os meninos de Lisboa têm a graça de viver do lado “certo” do planeta. Ou talvez que os meninos de Lisboa nem saibam que Marrakech existe e com ela uma praça onde há meninos como eles à procura da salvação numa moeda de cêntimos. Talvez. Certo é que entre Lisboa e Marrakech o que há são meninos que não entendem porque não perguntam, que não sabem porque o mundo apenas lhes dá isso mesmo, uma moeda ocasional, uma mão estendida e um rosto voltado em recusa.
1 comentário:
o meu filho que sentado vos olha, de olhar espantado e inocente à vossa indeferença, é um menino que talvez nunca venha a saber muitas coisas, a conhecer muitas coisas, a ter muitas coias... o meu filho olha-vos já consciente da diferença que existe entre ter o afago, o calor, a incerteza do alimento,a certeza do efémero e ter a lente vitrea da vossa camera, confortável cortina entre as pessoas e a vida....
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