quinta-feira, janeiro 14

Inverno


O Inverno chateia-me. A chuva, o frio, o trânsito medonho, a falta de luz, a falta de tempo e o ar encafuado das pessoas. Chateia-me, pronto. Fico desanimado. Nada a fazer. Sento-me no gabinete, na secretária lá de casa ou mesmo no café e fico à espera que passe. Vou contando os dias. Já só faltam dois meses e meio, a Primavera não tarda, vais ver. Pois. Mas entretanto, há que aguentar. Trabalho mais e trabalho demais, para ver se o tempo passa mais depressa e o ar começa a aquecer. Em vão. Na manhã seguinte, lá está ele outra vez, o Inverno, a gozar com a minha cara de veraneante órfão.

Pior ainda são as saudades. As saudades das esplanadas e do azul do rio ao fim da tarde, das miúdas mais bonitas e das noites mais compridas. Saudades das viagens à vontade e do tempo para fazer o que não se pode fazer no Inverno. Vejo e revejo fotografias, a ver se pelas cores reencontro o cheiro do vento quente que sopra quando estamos no campo e é Verão.

Só que agora não é Verão. É Inverno e as fotografias não trazem de volta os cheiros nem muito menos as esplanadas.

Restam os cinemas e os restaurantes em tom acolhedor, os cafés quentes enquanto a chuva escorre nas vidraças e as vozes se amontoam no ar. Resta o fogo da lareira e os livros e jornais por debaixo dos cobertores. Restam as noites enroscadas em abraços e os fins-de-semana inteiros no sofá. Resta o Inverno com tudo o que tem de bom. Mesmo chateado.

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