Pediram-me que escrevesse sobre o Alentejo. Queriam que falasse dos montes ao fundo do horizonte que são ondas de mar ao princípio da terra. Que enchesse de tinta as planícies entrecortadas de fogo. Disseram-me que escrevesse sobre o Alentejo, que pusesse no papel a imagem do infinito onde uma só árvore habita o final da tarde. Loucos. Não entendem que o Alentejo é silêncio, não é palavra. É a música que toca baixinho na ausência da voz. O Alentejo, disseram-me. Pinta o calor sobre as páginas de um caderno, canta o vento solto, a quimera eterna de homens e mulheres no caminho para casa. E gritam e riem e pedem-me que escreva sobre o Alentejo porque querem sentir a força da terra feita na palavra. Loucos. Não entendem que o Alentejo é para se viver e para se morrer. O Alentejo não se escreve.
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