San Pedro Sula, Domingo, cidade calma. No parque central, junto á igreja matriz, as gentes acumulavam-se em conversas de circunstancia ou dentro dos cafés em animados debates sobre coisas para mim incompreensiveis. Fui até á igreja e lá dentro estava o resto da cidade, os bancos repletos de homens e mulheres ajoelhados de maos erguidas ao céu. Ao fundo, no altar largo, o padre levantava ao alto crianças de colo como que oferecendo aos fiéis um símbolo da vida e da obra do Senhor, enquanto a sua voz se misturava com as das outras criancas, com os sussurros dos adultos tentando manter a ordem. De súbito, as vozes calaram-se e comecaram a soar os primeiros acordes de uma viola. A voz de uma mulher cantando encheu o ar, ecoou nas paredes amarelas e nuas e subiu-me pelos bracos enquanto me arrepiava o corpo. Nada, pensei. Mais nada senao isto. Num pais onde mais de metade da populacao vive abaixo do limiar da pobreza, a propria igreja reflectia a circunstancia dos tempos. Nem um adorno nas paredes, nada de estátuas ou figuras douradas para adoraçao divina. Apenas no tecto da nave central surgiam as figuras de santos e apóstolos pintados á mao. A voz da mulher ecoava e nos bracos das gentes erguidos ao alto pressenti a contradiçao de tudo. Sem esta pobreza e esta falta de recursos, talvez que a cerimónia nao tivesse tanta importancia e a igreja católica nao tivesse tanto impacto, mas, num lugar onde pouco ou nada mais resta a quem só sobrevive o dia-a-dia, a existencia dessa mesma igreja assomasse-me como fundamental para o consolo de tanto rostos.
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