O silêncio abraça como uma nuvem terna sobre o céu. Suave, há nele uma recordação vaga de tempos perdidos. É familiar sendo desconhecido, é o conforto calmo que assusta.
O silêncio é eterno. Podem soprar nele os ventos e a brisa, pode nele flutuar o canto solto dos pássaros, que nada o perturba. Tudo o que é está presente no silêncio. Ele é maior que todas as coisas. Mesmo quando tudo parece cessar de existir, é ainda o silêncio que permanece. É por isso que ele nos devolve a tudo quanto não podemos escapar, a nós próprios, ao que vemos mesmo sem querer ver.
O silêncio toma-nos no seu seio, beija-nos a fronte e faz-nos sentir um amor que é a natureza original. Mas também se faz noite fria e distante, erguendo-nos o olhar apenas para a assustadora contemplação do vazio. É como se o silêncio nos pudesse mostrar o peso do que somos ao vermos que à nossa volta quase nada existe. A solidão empurra-nos depois para o regaço ausente das longínquas memórias. E então somos como a nuvem. Calma e serena no firmamento infinito, porém à deriva, sem mais que um sol a que chamemos nosso.
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