quinta-feira, outubro 26

Diários da Índia 8

O que podíamos aprender

Toda a Índia é uma experiência de extremos. Por um lado vê-se o que de acordo com os nossos padrões ocidentais e bem-educados seria considerado abjecto, por outro vamos enriquecendo em tudo o que somos ao virar de cada esquina. Por entre as ruas cheias de excrementos, vacas, cabras, macacos, oportunistas, mafiosos, traficantes de droga e miseráveis pedintes, vamos descobrindo como são frágeis, muito frágeis, as nossas concepções acerca do mundo e da forma como vivemos a vida. Longe do conforto da terra pátria e do mundo dito civilizado, não encontrei ninguém em stress por ir buscar os filhos à escola e depois fazer o jantar, quem não acreditasse num certo optimismo acerca do universo. Não é que sejam mais felizes, ou que sejam menos, não é uma questão de julgar ou saber o que de mais ou a menos tem a Índia em relação ao mundo de onde venho. Trata-se apenas de observar na Índia o que da Índia gostaria que fosse do meu mundo, ao mesmo tempo que entendo o que do meu mundo poderia fazer falta à Índia. Porém, a tudo se deve observar com o olhar atento de quem soma e não de quem divide ou subtrai. Tal como os indianos fazem relativamente às fés e aos credos. É que também não encontrei quem fosse intolerante e cheio de preconceitos em relação a outras religiões e raças. Depois de ter estado com muçulmanos, budistas e hindus, é curioso notar que todos dizem o mesmo: são os políticos que fazem as divisões e as guerras, que não há problema algum com o facto de tu seres uma coisa e eu outra. Na Europa somos tolerantes e julgamo-nos o pico da humanidade sem experimentar o que este povo verdadeiramente experimenta: a comunhão.

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