terça-feira, maio 19

Diários de uma moeda ao ar 6

Madrid


Em Madrid, Lisboa cai aos trambolhões em recordações de semelhança. Excepto a gente. Estas ruas tão familiares mas que respiram em golfadas de multidões e pressas e vidas que nunca param. A viagem podia acabar aqui, a vida podia nascer aqui, este lugar que é tão real e desejo quanto é quimera. E as ruas que têm de tudo, mendigos e homens de negócios, gente de trabalho e gente que vai ao acaso, mulheres que riem como se a vida fosse solta e homens com ar de quem procura um vento que se não pode encontrar. Numa esquina, lojas cheias de turistas e um homem sentado tocando copos que é paz travando o reboliço dos passos. Os dedos contornam os bordos húmidos e as notas enchem o ar que me enchem o peito. Madrid que passa, a cidade que me faz querer anular o tempo e o espaço. Se pudesse, levaria Madrid até Lisboa e de Lisboa faria a Madrid de todas as viagens. Assim, ao fim da tarde, enquanto um homem tocando copos enche o ar de música e as gentes passam à procura de um vento que se solta.

FIM


1 comentário:

Ana Rute disse...

Quem não procura esse vento? Em Madrid ou em Lisboa, ou no Mundo ou dentro de Si Próprio...