segunda-feira, maio 3

Diários da Florida 3


Miami South Beach I

Se o desespero da noite tivesse um nome talvez se chamasse Miami Beach. Chegamos ao cair da noite, mas o que caem são os corpos e as vozes, os gritos e o movimento frenético de pessoas que parecem divertir-se. Há uma espécie de corrida perpétua pelo estado mais alucinado da alma, no meio do trânsito caótico, da música aos altos berros vinda dos automóveis que passam num desfile de vaidades. Tudo é aparente, ou pelo menos tudo me parece aparente. Os jovens e adolescentes deitados em cima dos capots dos carros, as raparigas de saias à cintura, bonecas de salto alto a reclamar que aqui não há lugar para infâncias, homens de fato escuro à porta de discotecas e clubes de ar ainda mais escuro, gente e mais gente que passa indiferente, uma babel de sentidos desconcentrada. Há uma tensão de barril de pólvora no ar, como se bastasse um grito, um movimento mais brusco, para que a guerra começasse sem aviso e levasse consigo estas existências que correm para tentar enganar o desespero de não se encontrarem. Miami South Beach à noite não é um lugar, é um buraco de luz no meio de centenas de escuridões.

1 comentário:

alfacinha disse...

descreve numa maneira lindíssima aquele ambiente