Partida
A noite de Madrid quase nos faz o perder o avião. Acordamos tarde, o corpo a ressentir “tapas” e “cañas”, mas a cabeça a sonhar com o Verão que aí vem. Dentro de poucas horas, embarcaremos para Miami, o outro lado do Atlântico que nos espera com promessas de sol e mar e de um mundo afinal diferente.
Barajas é a confusão de sempre. A companhia lembra-se de fazer o check-in para três voos em dez balcões em simultâneo. A fila é poliglota e parece interminável, serpenteando por entre trolleys e malões e avisos pela estereofonia do aeroporto. Eu sou só uma mochila e R. é apenas uma mala de mão que dispensa cuidados de despacho. Entra a calma e a paciência das viagens. Afinal, vamos e, como vamos, todo o tempo é relativo. Tudo se compõe na velocidade de hospedeiras e hospedeiros de terra com ar de quem teve aulas de etiqueta para aguentar com sorrisos as pressas alheias. Na fila, uma rapariga com ar vagamente cubano abre e fecha a mala, faz e desfaz roupas e bagagens a um ritmo frenético. Não percebo porque o faz tanto e penso que talvez seja o nervosismo, a ansiedade, o simples desejo de partir e levar consigo tudo o que não pode ficar esquecido.
Cartões de embarque e mais corredores, cadeiras que esperam e seguranças que desesperam. Todas as malas são abertas e todo o conteúdo é retirado e revirado. Finalmente embarcamos. O sol de Madrid bate na pista e parece que imobiliza a aeronave. Nada se passa e mais uma hora passa sem que se passe nada. Finalmente descolamos. No ar, as nuvens deslizam pela fuselagem como se fossem uma despedida. Para nós, porém, não há despedidas. Vem aí o desconhecido e o imprevisto, a descoberta, a mudança e a diferença. A viagem.
Sem comentários:
Enviar um comentário