O fogo na lareira quando se agita aquece a pedra. Lembra a alma que nos enche por dentro, a vida que temos em nós e que não aquece se a deixamos morrer. A chuva vem de longe e atinge a casa com uma violência de guerras. A água escorre por dentro da pedra mas não chega a tocar o chão. Antes disso está o fogo que se agita e aquece o olhar perdido nas labaredas dançando sobre a pedra. Lá fora, o mundo em silêncio apenas sussurra na voz do mar ao longe. As ondas rebentam nas rochas e anunciam o temporal que abafa a vila como um beijo apaixonado e fugaz. Pela chaminé, vem o vento que empurra o fumo para dentro até sair de novo levando consigo o cheiro da casa. Ao canto da sala, o cão dorme aquecido pela pedra e pelo fogo e pela água. Nem um som aqui dentro, apenas o arfar do cão sonhando (há pouco, um latido contido como se fora sonâmbulo).
A casa crepita com o gosto do fogo. O copo tomba sobre o sofá na vertigem do meu sono, deixando à vista o cheiro do álcool e dos cigarros. Ao canto, o cão não se mexe, apenas um suspiro ao encontro do odor familiar da casa.
(lá em cima no quarto havia um corpo. Um corpo que era fogo e que agora é apenas memória de cinza. Se me tocava, era a água correndo fria no interior da pedra quente. Se desaparecia, o corpo era este silêncio longínquo do mar anunciando o temporal.)
Caio no sono e no sonho e então o temporal é noite clara e este país estranho perdido no fundo do mapa. Não entendo a língua, não sei que me diz esta gente que me indica um rumo sem saber para onde vão. Tenho de continuar a andar. Peço ajuda às estrelas para que me mostrem o caminho. Como um rei mago, como um rei vago tacteando às cegas a luz da salvação. As estrelas sorriem-me num rosto de infância. O rosto que estende um beijo antes de me puxar e fazer voar por cima das ondas que anunciam a tempestade.
(estou do outro lado do mundo.)
A água escorre por dentro da pedra e acorda o cão. Ouço as patas troteando sobre o soalho antes da humidade me tocar o rosto. Nos olhos recebo a luz da manhã num espanto de novidade. A noite passou e lá fora o mundo sossega com o anunciar de um novo dia. Não escuto o mar por isso adivinho o fim da tempestade.
(do outro lado do mundo havia um corpo. Se me beijava era o vento puxando o fumo levando consigo o meu cheiro.)
Chego à porta e sinto a força do recomeço. O milagre está nas estrelas. Eu estou aqui.
A casa crepita com o gosto do fogo. O copo tomba sobre o sofá na vertigem do meu sono, deixando à vista o cheiro do álcool e dos cigarros. Ao canto, o cão não se mexe, apenas um suspiro ao encontro do odor familiar da casa.
(lá em cima no quarto havia um corpo. Um corpo que era fogo e que agora é apenas memória de cinza. Se me tocava, era a água correndo fria no interior da pedra quente. Se desaparecia, o corpo era este silêncio longínquo do mar anunciando o temporal.)
Caio no sono e no sonho e então o temporal é noite clara e este país estranho perdido no fundo do mapa. Não entendo a língua, não sei que me diz esta gente que me indica um rumo sem saber para onde vão. Tenho de continuar a andar. Peço ajuda às estrelas para que me mostrem o caminho. Como um rei mago, como um rei vago tacteando às cegas a luz da salvação. As estrelas sorriem-me num rosto de infância. O rosto que estende um beijo antes de me puxar e fazer voar por cima das ondas que anunciam a tempestade.
(estou do outro lado do mundo.)
A água escorre por dentro da pedra e acorda o cão. Ouço as patas troteando sobre o soalho antes da humidade me tocar o rosto. Nos olhos recebo a luz da manhã num espanto de novidade. A noite passou e lá fora o mundo sossega com o anunciar de um novo dia. Não escuto o mar por isso adivinho o fim da tempestade.
(do outro lado do mundo havia um corpo. Se me beijava era o vento puxando o fumo levando consigo o meu cheiro.)
Chego à porta e sinto a força do recomeço. O milagre está nas estrelas. Eu estou aqui.
1 comentário:
Os milagres podem estar nas estrelas, mas elas correm no sangue e presentificam-se nas palavras. Como acabou de acontecer neste teu texto.
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