sábado, setembro 30
quinta-feira, setembro 28
To remember while in the storm
When I was just a little girl
I asked my mother what will I be
Will I be pretty, will I be rich
Here's what she said to me
"Que sera, sera
Whatever will be, will be
The future's not ours to see
Que sera, sera
What will be, will be"
When I grew up and fell in love
I asked my sweetheart what lies ahead
Will we have rainbows day after day
Here's what my sweetheart said
"Que sera, sera
Whatever will be, will be
The future's not ours to see
Que sera, sera
What will be, will be"
Now I have children of my own
They asked their mother what will I be
Will I be handsome, will I be rich
I tell them tenderly
"Que sera, sera
Whatever will be, will be
The future's not ours to see
Que sera, sera
What will be, will be"
Doris Day
terça-feira, setembro 26
domingo, setembro 24
Paz
Diários da Índia 4
Mahabodhi International Meditation Centre, Leh, Himalaias
A impermanência de todas as coisas, a constante mudança a que está sujeito tudo quanto vive e existe deve ao homem servir não só de aviso como igualmente de consolo. Quando se experimentam sentimentos de alegria e felicidade, é bom que o homem se lembre de que tais sentimentos não irão durar para sempre. Deve então o homem aproveitar tais momentos no seu pleno, ao mesmo tempo que reconhece a necessidade de constantemente os cultivar, pois de contrário esgotar-se-ão ainda de forma mais rápida. Por outro lado, ao experimentar sentimentos de tristeza, raiva ou angústia, é igualmente bom que o homem se lembre de que tais sentimentos não irão permanecer em infinito no contínuo do seu tempo. Deve então o homem esperar, reconhecendo que tais sentimentos, embora impossíveis de evitar, devem agora ser compreendidos para que possam doravante ser da sua vida erradicados.
domingo, setembro 17
Diários da Índia 3
As cores que se precipitam sobre as águas castanho escuras da morte e da vida, as vozes que vêm gritando e que tanto gritam que parece que falam, que parece que cantam, os cânticos e orações que enchem o ar e se derramam sobre a luz. A luz. O céu reflectindo as águas que por sua vez se estendem até ao horizonte onde o sol se põe e se nasce, as casas velhas de milhares de anos que se esmagam por entre os templos, os telhados que mudam de cor à velocidade louca do dia. Os barcos que se assomam à tona do rio trazendo lá dentro os homens e as mulheres daqui, as mulheres e os homens de longe, os corpos que passam e nadam e nadam alheios à correnteza. A mesma correnteza que consigo tudo arrasta, os cadáveres de animais, os corpos mal queimados das crianças há pouco nascidas sem terem nascido, as velas que nunca se apagam e flutuam no seu curso de prece e de perdão, as folhas e as flores arrancadas às margens e às mãos dos que as abandonaram. A tudo arrasta a corrente, arrasta a morte e arrasta a vida, as mesmas que se vêem dos cais e suas escadarias, das ruas que desembocam cansadas e frenéticas e se precipitam sobre as multidões. As ruas estreitas, apinhadas, o cheiro fétido, podre, os excrementos que das entranhas vomitam a indiferença, os moribundos, os pedintes que de ossos retorcidos se arrastam pelo pó à espera que o pó os coma. Os traficantes, os vigaristas, os peregrinos, os viajantes sem destino, os que pela vida lutam e lutam, os que se quedam alheios ao tempo. A confusão, o caos, os cosmos das mães que carregam os filhos junto a si como se fossem um só ser, as mãos fraternas que passam dadas sem pudor. Os sorrisos das crianças, os sorrisos escondidos das mulheres, os olhares atentos dos homens, a fabulosa presença da humanidade. E outra vez o rio. As gentes que se agitam, que mergulham, que emergem com o riso nos rostos, que de olhos cerrados oferecem aos deuses a água que de si brota, os corpos que se encostam uns aos outros para que se não percam, os corpos que tapam a vergonha com mantos e tecidos vermelhos, amarelos, verdes, azuis, roxos, laranjas, constelações de cores. Os corpos que ardem. Por cima das madeiras que alguém cuidadosamente dispôs para que se façam em nada as vidas que um dia hão-de renascer. Os choros contidos, os silêncios desabafados na contemplação do fogo, as roupas secando junto às chamas como restos de náufragos sem salvação. A Morte. O Homem. A Vida. Deus e o Diabo pintando a mesma tela.
segunda-feira, setembro 11
9/11
Há cinco anos atrás neste dia, quatro aviões cortam os céus da América – the land of the free – e levam consigo o destino medonho da guerra. A história está mais que contada, por isso todos sabemos que destino tiveram essas aeronaves. Três mil vidas se perderam nesse dia. Num ápice. Porém, essas vidas não estavam em guerra, não habitavam parte nenhuma do globo onde ela tivesse lugar, não corriam risco algum. Eram “apenas” as vidas das gentes ditas normais, ainda por cima respirando no lado mais desenvolvido do planeta. Uma absoluta e perfeita banalidade. A vasta maioria dessas vidas limita-se a acordar para mais um dia, provavelmente toma o seu café, come a sua torrada, lê o jornal, as notícias do dia e os resultados do desporto, beija os filhos antes de os deixar à porta do colégio, estaciona o carro, apanha o comboio que a há-de levar ao destino final, faz o mesmo percurso de sempre até chegar ao seu escritório de sempre, as secretárias repletas de papéis pousados que mais tarde hão-de voar como se estivéssemos diante de uma parada, os ecrãs apagados prestes a ganhar vida, a vida prestes a apagar-se. Há as conversas de circunstância, os cumprimentos rotineiros, os sorrisos dos chefes, a cumplicidade entre colegas, as queixas, os lamentos, os triunfos sussurrados em segredo, os feitos anunciados para glória da equipa, o trabalho faz-se. Há os últimos olhares para as fotografias emolduradas dos entes queridos, a contemplação do firmamento, como está azul o céu lá fora, é Verão, as férias ainda não há muito que se acabaram, as recordações dos mares, das praias, das cidades de um outro mundo ao qual jamais haverá regresso. Há a correria dos telefones, das máquinas fotocopiadoras, o tinir dos elevadores, o dia que começa.
Nós, a monumental maioria de nós, não trabalhava no World Trade Center ou no edifício do Pentágono nem nesse dia, nem noutro dia qualquer. Somos o resto do mundo, os que do sofá assistiram a tudo pela televisão, os que estão vivos. A grande maioria de nós fez talvez nesse dia o mesmo que fez e faz em tantos outros. Acordámos para mais um dia, tomámos o café, lemos o jornal, beijámos os filhos, estacionámos o carro, apanhámos o comboio, ligámos o computador, sorrimos para o chefe, conversámos com os colegas, queixámo-nos, lamentámo-nos, partilhámos em silêncio triunfos e anunciámos feitos. Trabalhámos, olhámos as fotografias emolduradas da nossa cara-metade, lembrámos as férias, o mar azul, os lugares a que talvez um dia regressemos, repetimos a mesma rotina, os mesmos gestos, os mesmos rituais da modernidade.
E todos sonhámos. O corrector da bolsa dirigindo-se ao seu gabinete lembrando o fascinante livro de aventuras que lera na noite anterior, a professora de liceu caminhando ao longo da avenida pensando no amor que um dia recebeu, que um dia há-de receber, o empregado de café sorrindo de exaltação com as viagens que um dia ainda há-de fazer, a secretária abnegada olhando o segurança enquanto inventa as frases que lhe dirá entre os lençóis que hão-de partilhar, a motorista do autocarro atenta ao trânsito enquanto se pergunta para quando a casa sobre o mar, o advogado que um dia há-de deixar tudo para trás e habitar a montanha do seu silêncio, o operário, a contínua, o jardineiro, a simples funcionária e o sofisticado engenheiro. Nós. Nós todos e eles, os que sonham e sonhavam, os que se perguntam e perguntavam quão diferente pode a vida ser, os que dizem e diziam que isto está tão mau que já nem vale a pena lutar, os que ainda assim diriam que podia ser pior mas como seria bom que fosse diferente. Todos nós iguais, como esses outros a quem no dia mais normal das suas vidas sucedeu a maior das improbabilidades. Os homens e as mulheres sentados às suas secretárias lendo a folha de serviço, o balanço da contabilidade, o jornal sobre coisa alguma, ao mesmo tempo que milhares de toneladas de plástico e metais são projectadas de encontro às suas janelas. Nesse dia, há cinco anos atrás, morreram “apenas” pessoas normais vivendo o mais banal dos seus dias, lembrando-nos que basta um instante para que as nossas vidas não tenham mais por onde esperar.
domingo, setembro 10
sábado, setembro 9
Diários da Índia 1
domingo, setembro 3
Poesia Toda
O poeta, assombrado pelo ser e pelas noites onde encontra impossível o descanso, escreve ao correr dos anos as palavras que o definirão. Vai pelas páginas como quem atravessa campos e desertos rumo à terra prometida, sozinho em si até ao ponto em que nada mais escuta senão o seu próprio silêncio. Fecha as portas da casa e fica imóvel sobre as páginas, alheio ao tempo que o envelhece, o tempo indiferente ao labor sofrido que emprega em cada verso, o tempo que se esquece e pára e que o poeta não sente. Porém, não se importa o poeta nem com o tempo nem com a fome nem com a outra vida que do lado de fora das paredes da casa vai passando sem aviso. Escreve porque é esse o seu trabalho, o seu desígnio, a sua função na metafísica roda dos elementos. Nenhum outro destino ou realização lhe parece mais natural que estender em telas de folhas aquilo que por dentro o pinta. A casa vai assim ficando vazia de espaço e por todo o lado se amontoam páginas e cadernos que um dia o poeta deixa finalmente sair pela janela. Cá fora, alguém os agarra e os leva para que o mundo possa enfim espreitar por dentro a alma de outro ser.
Vêm então os livros, os volumes de folhas presas que se aninham em estantes onde as gentes vêm para ver e tocar o génio do poeta. Vêm o reconhecimento, as láureas e as ilustres nomeações que fazem do poeta um homem distinto e honrado. Ano após ano, década após década, o poeta envelhece ao ritmo de edições e distinções. O seu nome ilustra capas, as suas palavras preenchem as obras que outros seguram e percorrem e para si tomam como suas.
De tanto deixar que o seu nome e ser percorram o mundo, chega o instante em que o poeta pouco mais é que esse mesmo nome ilustrando capas e essas mesmas palavras que se lhes seguem. Fica esquecido dentro da casa e percebe que para o mundo nada é senão letras cuidadosamente conjugadas lado a lado consigo mesmas. O poeta, já cansado e farto de si e do mundo que afinal havia escrito a sua poesia, decide deixar-se levar pela cessação derradeira da existência. O poeta morre. Melhor, morre-se-lhe o corpo e a mente, os pensamentos e as ideias interrompem a sua natural cadência, os cabelos brancos e a pele enrugada deixam de embranquecer e de enrugar. A sua alma, se é que a tem, eleva-se ou desce para um lugar qualquer que não se pode experimentar. Mas antes de todo este abandono, o poeta olha pela última vez a terra que lhe fica com o corpo e imagina e contempla os lugares onde descansam o seu nome e as suas palavras. Acredita que afinal não é bem a morte que lhe acontece, antes que subsiste a sua existência no fruto do suor e do labor que empregou na construção de cada verso, no erguer de cada estrofe que agora habita os cantos do mundo. Fecha o olhar sorrindo e já não vê que o tempo um dia há-de percorrer esses lugares e que deles levará as capas com o seu nome e as folhas com os seus versos. Tudo desaparecerá excepto um último volume que resta na biblioteca de uma cidade longínqua ou um amontoado de páginas envelhecidas na prateleira de uma livraria. Na capa desse último volume, ler-se-á Poesia Toda e nas mãos da mulher de chapéu vermelho que agora o folheia descansarão os seus versos, mil oitocentas e trinta e quatro páginas resumindo uma vida.
sábado, setembro 2
sexta-feira, setembro 1
32 linhas para ler.
Sente que respiras.
O espaço ao teu redor é simultaneamente uma extensão e uma redução de ti mesmo.
És um indivíduo, mas apenas uma ínfima parte de um todo e, por isso mesmo, individual.
Escreve todos os dias a frase: Presta atenção.
Diz todos os dias a frase: Mantém-te consciente.
Repete silenciosamente todos os dias a frase: Eu estou aqui agora.
Lembra todos os dias a frase: A viagem da mente ao coração tem a distância de um gesto.
Estás a caminho de ti mesmo. Não avanças, recuas. Ai de ti se avanças sem saber que recuas.
Pára as vezes que forem necessárias quando forem necessárias. Nada se pode sobrepor à tua paz.
Todas as tuas emoções geram energia. Algumas, como a raiva e o amor, geram uma energia imensa e difícil de controlar. Porém, aprende a reconhecer essas emoções. Aceita-as e controla-as, vivendo-as. Estás assim mais perto de usar sabiamente toda essa energia em ti gerada.
Aceita. O que é, simplesmente é.
Vive para os outros, não em função dos outros. Quando estiveres presente, abre o coração. Tem o cuidado de estares muitas vezes presente apenas para ti próprio. Para que não esqueças e sintas o teu próprio coração.
Reconhece a primeira instância do teu entendimento. Confia na tua primeira consideração. Reconhece que nove vezes em dez o que se segue e contraria o teu primeiro entendimento é o trabalho ininterrupto e tantas vezes desnecessário da tua mente.
Vive os teus rituais. Cria-os e recria-os, mas nunca faças com que deixem de ser rituais.
Procura, sente, vive em comunhão com os outros. Pouco ou nada poderás fazer que alguma vez os transforme em outra coisa além daquilo que são. Quando são os outros que contigo não vivem em comunhão, aceita e escolhe ou não virar as costas, para que não jogues com eles o mesmo jogo.
O mundo é feito exclusivamente de factos. Os factos, só por o serem, já são impossíveis de alterar. Podes criar ou descobrir novos factos, mas o resto são apenas visões, interpretações e julgamentos. Atenta e aceita que, apesar de não comportarem em si nenhum facto, todos esses actos de ver, interpretar ou julgar são igualmente factos.
Duvida. Sempre. A começar por ti mesmo. A dúvida pode constituir um enorme passo para a humildade.
Duvida. Nada sabes a não ser o que em ti reside, mas ainda assim há muito que permanece por descobrir.
Mantém-te presente. Por inteiro. Um ser no meio de um só todo.