Hoje acordei a pensar que dois meses são demais. Dois meses de silêncio, nem uma linha que se veja na amostra do ciberespaço blogarístico. Então vai daí, toca de levantar o corpo depois da ressaca da noite e vir para o computador escrever qualquer coisita que ainda possa alegrar o dia.
Mas, escrever sobre quê? O país está em stand-by, toda a gente à espera do que Sócrates vai fazer enquanto Cavaco perscruta incessantemente o seu próprio ciberespaço. E Manuela, será que fica, será que vai? Resistirá Portas ao peso de dois ou três submarinos? Louçã e Jerónimo poderão algum dia ser amigos? Não, não é sinopse nem marketing de telenovela. É o país real e por isso mesmo, escrever sobre quê?
O Benfica vai de vento em popa, mas quase toda a gente sabe que sou do Sporting, por isso futebol nem falar, quanto mais escrever.
Passemos à filosofia de circunstância, portanto. A crise de valores, os divórcios em barda, as famílias disfuncionais e as palmadas pedagógicas. Toda a gente tem um amigo que tem uma amiga que se separou e toda a gente tem uma amiga que tem um amigo com um filho com problemas na escola ou um amigo com uma filha numa escola com problemas. Ou então ninguém tem amigos. Li no outro dia no jornal que os portugueses estão cada vez mais sós, que existem cada vez mais e mais jovens a viverem sozinhos. Posto isto, a crise de valores é relativa, na medida em que para que um valor tenha importância é necessário que um ser humano aja sobre outro e há cada vez menos interacção entre as pessoas. E esta é uma péssima conclusão, mas não deixa de ser filosofia de circunstância.
Então, dizem, e a literatura? Que é da poesia e da prosa estilística em tom autobiográfico? Afinal, tem sido essa uma das pedras de toque essenciais deste blog e, numa sondagem não encomendada pela Universidade Católica, seriam esses textos que a maioria provavelmente referiria como os que mais lêem neste nicho de ciberespaço pessoal. Pois. Mas, que querem? Ando pragmático demais, pouco dado aos devaneios necessários à ficção sentimental. É da vida. Tanto para fazer e tão pouco tempo. O trabalho e as farras são um equilíbrio difícil de manter, mais a mais são coisas que nos sugam demasiado para dentro da vida real.
Em conclusão, sou capaz de escrever sobre coisa nenhuma. Não é assim tão difícil encher uma página A4 com uma série de considerações que não fazem mais que partilhar a angústia do escritor em branco. E vá lá, não se queixem – não sei sobre que escreva, mas sempre têm qualquer coisita que se leia.