Primeiras impressões – Casablanca, manhã do dia 1 de Abril
Não percebo nada do que as pessoas conversam à minha volta.
Domingo talvez seja um bom dia para chegar a Casablanca. Tudo calmo e não há sobrelotação de pessoas em parte alguma.
Sinto-me espantosamente tranquilo.
Os comboios são muito confortáveis, mas sobretudo lembram-me os da minha infância na Linha de Sintra.
Já não me lembrava de como o meu francês pode ser tão mau.
Casablanca parece ser um amontoado de casas velhas e prédios sujos, mas é certo que só vi a cidade da janela do comboio.
Os homens vestem uma espécie de camisa de noite grossa e com um capuz que me dá a impressão de ser muito confortável e prático.
Estamos em terra muçulmana, logo, já se sabe, mulheres de cabeça tapada e afins. Todavia é curioso ver que há muitos homens que carregam os filhos ao colo e que são eles que mais parecem interagir com as crianças.
Está frio, por isso, para já, lá se foi o mito do calor em África…
Sinto que venho visitar antepassados. As linhas nos rostos, a pele, os olhos, sendo diferentes dos meus, transmitem-me uma vaga sensação de familiaridade que não consigo bem entender ou classificar.
A primeira fotografia que não tirei mas gostava de ter tirado: um bairro degradado, tipo shanty town, casas rasteiras e chão enlameado, lixo encostado aos muros. Por cima de tudo isto, centenas de antenas parabólicas todas viradas na mesma direcção, a Este.