Por enquanto o deserto é ainda uma miragem. Um projecto, um ideal, um sonho, uma partida ainda por chegar. Faltam 30 horas, 20, 10 horas, falta o tempo que o coração há-de percorrer em sobressalto e a cabeça de um lado para o outro, às voltas ambos com o que não sabem mas gostavam de adivinhar. Há os preparativos e a mochila por carregar, os jantares de despedida e os telefonemas de última hora, as compras, as leituras e as planificações, os caminhos calcorreados em forma de palavra. O que é preciso fazer. E o deserto. O Sahara. Destino nada longínquo, aqui mesmo à mão de semear do homem que sonha. Proponho-me não morrer de sede, falar com estranhos sempre e onde for possível, olhar bem, mas muito mesmo, à volta, cerrar as pálpebras e quem sabe sentir o vento se vento houver. Proponho-me descobrir e ver de que é feita essa areia seca sobre a qual tanta água um dia se desmoronou, contar como foi e como é, subir a uma duna e gritar, descer aos rebolões como se fosse criança. Parar em silêncio, ser. Proponho, prometo, sonho. Mas por ora apenas adormeço, embalado pelo deserto, vaga fotografia da imaginação.
sábado, março 31
Diários do Deserto 1
Introdução à quimera
quinta-feira, março 29
segunda-feira, março 26
Pausa
Faço uma pausa na literariedade e abro o jornal. Salazar venceu o concurso Grandes Portugueses. Cunhal ficou em segundo. Eu, por mim, deixei de ter televisão há mais de seis meses.
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