quinta-feira, novembro 30

Madrugada




Há um lugar onde se chega
um tempo que sem dor termina
o fim de um caminho
o amor chorando outra vez pela vida

Há quem se acolha ao entardecer
quem ao longe veja no escuro
antes da ausência e do medo
a viagem certa para a casa do futuro

Há corações que nascem para viver
um tempo que no amor começa
o sol erguendo-se pela força da música
esplendor de uma voz aberta

Há quem ensurdeça os silêncios
quem com um beijo de vida afaste os mortos
quem para sempre para sempre lembre
a madrugada esquecida no abraço dos corpos
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quarta-feira, novembro 29

¿Quién decide?



Shouting, William Blake


"¿Quién decide quién está loco y quién no? O lo que es más difícil, ¿cómo saber quién está loco y quién no? Yo siempre he pensado que la locura es, más que una condición clínica, un término legal. En los manicomios es fácil saber. ¿Trae bata blanca? No está loco. No trae bata blanca: está loco. Trae bata blanca pero abrochada por detrás: está loco. No trae bata pero trae una jeringa: no está loco. Trae una jeringa y un chingo de raza corriendo detrás de él: está loco. Trae corbata: es el administrador. Pero fuera del manicomio es más difícil establecer criterios. Es decir, si uno ve a un tipo de barbas largas, desaliñado, sucio, predicando el fin del mundo, uno puede decir “está loco”. Un amigo, cuando ve a alguien así, dice “ese güey le va a los Pumas”. Si alguien ve a un pordiosero hablando con una cajita de cartón, instantáneamente piensa “mira, un pobre loquito”. Mi amigo diría “ese güey le va a los Pumas”. Una vez íbamos caminando por un parque donde jugaban niños, y había un tipo desnudo con una gabardina enseñando sus miserias. Cualquiera hubiera pensado “maldito pervertido, loco de mierda”. El tipo se puso frente a nosotros y abrió su gabardina. Yo inevitablemente miré hacia otro lado, pero mi amigo me dijo “¿ya viste qué chiquita la tiene?… de seguro juega en los Pumas”. (Pausa breve) Cuando digo que la locura es un término legal, es porque hay que estar legalmente loco para que a uno lo encierren. Mientras tanto sólo estamos enfermos. ¿Qué es lo que separa a Hugo Chávez de la locura? La silla presidencial. ¿Qué es lo que separa a George Bush de la locura? La silla presidencial. ¿Qué es lo que separa a nuestro honorable Congreso de la Unión de la locura? (Pausa) No, es en serio, les pregunto porque realmente no lo sé. (Pausa breve) La locura es una cuestión de consenso. Es decir, un tipo barbudo hace desmanes en la vía pública mientras grita que él es Dios. Unos cabrones en batas blancas se ponen de acuerdo y dicen “ese güey está loco”. Firman unos papeles y listo, el tipo está legalmente loco. Por otro lado, otros cabrones en túnicas ven al mismo tipo, se ponen de acuerdo y dicen “sí, ese güey es Dios”. Escriben un libro y ¡pum! el bato ya es Dios. Llegan otros cabrones pero en traje, lo ven, se miran, ven cómo la gente le presta atención y lo rodean para ver qué está haciendo, se vuelven a mirar entre sí, hasta que uno dice “¿y si lo lanzamos como nuestro candidato?” Así las realidades se van concensando. La única variable de la historia es que unos llevan batas, los otros túnicas y los últimos trajes. Así que todo depende de quién te mire para saber si eres Dios, un loco o un loco con suerte… ¿Dios existe? Claro, porque un montón de personas se puso de acuerdo, y –aunque jamás lo hayan visto– aseguran que es así. Por ejemplo, usted y yo, a ninguno de nosotros nos conocen en Tailandia, ¿cierto? Pero qué tal si a un tailandés le preguntan si conoce a Mickey Mouse. De seguro le va a responde que sí. Entonces Mickey Mouse es más real que usted y yo. A veces, cuando pienso en esto, me deprime darme cuenta que el Chupacabras existe más que yo… Como les dije, la realidad funciona como una democracia. Pero esto no necesariamente quiere decir que la democracia funcione en la realidad. (Pausa) Si lo piensan bien, los esquizofrénicos somos afortunados. Nunca estamos solos. Siempre estamos viendo cosas, oyendo voces… los que tiene personalidad múltiple no tienen que estar esperando a que los inviten a una fiesta, ellos solitos se dan abasto. La única bronca es cuando tienen que ponerse de acuerdo sobre quién va a ir por la cheves."


in El Hombre Sin Adjetivos, Mario Cantú Toscano
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sexta-feira, novembro 24

Liberdade

Gostava de sentir a liberdade absoluta. Gostava de viver ao sabor de um passo, ignorar os ponteiros do tempo e contar apenas a luz do dia e as estrelas na noite. Ser livre, percorrer a pé as praias mais longas do mundo, cheirar o mar até ao fundo mais remoto.
Queria beijar toda a beleza que já vislumbrei, abraçar a vida como se abraça um amigo.
Queria cair na vertigem da estrada que não leva a lugar algum e chegar a esse eterno nada.
Gostava de lavar o coração com todas as lágrimas que nunca chorei para que o sangue fosse tão puro como quando era criança. Queria ser outra vez criança, visitar a infância e ver a frescura dos olhos de minha mãe, escutar a gargalhada solta de meu pai, brincar com o meu irmão, os dois perdidos nesse amor mais simples que é o amor entre crianças.
Gostava de voar ao entardecer, ofuscado por crepúsculos incandescentes, a respiração suspensa pelo beijo da Natureza, o olhar preso de espanto na grandeza do mundo.
Queria escrever as palavras certas para descrever o amor, a vida, a morte e a transcendência do Homem, escrevinhar nas paredes das casas os meus poemas favoritos, partilhar com toda a gente o fervor das emoções que se escondem na explosão de um verso.
Gostava de ser absolutamente livre, de amar quando e onde quisesse.
Queria libertar o corpo ao vento e nunca sair de casa, beber a água nas fontes das montanhas e escutar o silêncio que para sempre se afunda no horizonte.
Gostava de fechar os olhos e apenas sentir, sentir a brisa da vida que para sempre em mim se transforma.

quarta-feira, novembro 22

Claridade

Jorge Luís Borges: (…) reflecti que todas as coisas sucedem a uma pessoa precisamente agora. Passam séculos e séculos e só no presente acontecem os factos; há inúmeros homens no ar, na terra e no mar, e tudo o que realmente sucede, sucede-me a mim…

Podemos pensar que a vida se agita constantemente aos nossos olhos; podemos acreditar que bebemos a existência plena pela taça da experiência enquanto saboreamos o doce bolo do conhecimento; podemos julgar que já vimos no mínimo metade do que há para ver e que o nosso saber é sólido como as raízes mais fundas; que embora esse saber possa sofrer transformações e contestações jamais será alterado na sua essência; podemos por exemplo saber que o tempo tem dias e tem noites, que os dias são normalmente claros e que as noites primam pela escuridão, que a escuridão só pode ser concebida na ausência da luz e que só a luz pode anular qualquer resquício dessa escuridão. Sabemos isto e muito mais e pensamos, ou melhor, não pensamos, que os limites do nosso mundo comportam também eles os limites do nosso entendimento.
E depois basta um instante. Um homem senta-se à nossa frente com a face meio comida pelo tempo e percebemos que não vivemos nada. Assalta-nos a evidência de que o mundo, esse sim, é vasto e da nossa vida não reza a sua história ininterrupta. Fica-nos a impressão de que não somos mais que uma fracção, que algures o grande relógio se soltou e se fez a história que continuará mesmo para além de toda a nossa transcendência. Percebemos tudo isto só com a presença de um velho? Sim. Porque não podemos fugir à óbvia diferença que entre nós subsiste e que nos mostra a distância que nos separa dos homens que também somos.

segunda-feira, novembro 13

Diários da Índia 9

The essence of beauty


Ladakh, Himalayas

"You know when you see something like a marvellous mountain against the blue sky, the vivid, bright, clear, unpolluted snow, the majesty of it drives all your thoughts, your concerns, your problems away. Have you noticed that? You say, ‘How beautiful it is’, and for two seconds perhaps, or for even a minute, you are absolutely silent. The grandeur of it drives away for that second the pettiness of ourselves. So that immensity has taken us over. Like a child occupied with an intricate toy for an hour; he won’t talk, he won’t make any noise, he is completely absorbed in that. The toy has absorbed him. So the mountain absorbs and therefore for the second, or the minute, you are absolutely quiet, which means there is no self. Now, without being absorbed by something – either a toy, a mountain, a face, or an idea – to be completely the me in oneself, is the essence of beauty."

in On Love and Loneliness, Jiddu Krishnamurti
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sexta-feira, novembro 3

A Fácil Felicidade

Most lives vanish. A person dies, and little by little all traces of that life disappear.
in The Brooklyn Follies, Paul Auster


Não vás por aí. Tenta ir com a maré, dar a volta por cima, mas não aceites merda de ninguém. Mantém a cabeça erguida. Leva a bicicleta tanto pelas montanhas como pelas planícies. Sonha com aquele corpo nu e perfeito, aquela pele lisa e dourada. Toma todos e só todos os remédios que tiveres de tomar. Vota sempre na Esquerda em todas as eleições. Bebe muita água durante o dia. Puxa pelo Sporting, vai ver um jogo ao estádio de vez em quando. Vê muitos filmes, lê ainda mais livros, escreve o que conseguires. Ouve a música. Não trabalhes demasiado, não te esforces mais do que a conta no teu emprego. Vai a Londres, a Paris, a Nova Iorque, sente África pelo menos uma vez e não te esqueças que o mundo é imensamente maior que tu. Vai até ao hospital quando o teu filho estiver a nascer, segura-o bem nos braços e inclina-te com um beijo perante a mulher que amas. Lava os dentes a seguir a todas as refeições. Não atravesses a rua quando o sinal está vermelho. Defende o fraco e o oprimido. Mantém o respeito por ti e pelos outros. Lembra-te de todas as pessoas lindas que existem e de que és uma delas. Lembra-te de que amas e de que és amado também. Bebe um copo com os amigos de vez em quando. Não fales demasiado a sério. Respira fundo. Faz amor e dá, faz amor e recebe, sempre pela mesma ordem. Mantém os olhos bem abertos. Alimenta-te como deve ser. Dorme o sono dos justos. Vai ver o mar e começa de novo. Lembra-te de que amas e de que és amado também.